“guerra” de facções

Dominada pelo tráfico, fronteira concentra 21% dos assassinatos

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Com 12% da população do Estado, municípios fronteiriços são disputados por facções criminosas, contribuindo para estatística

 

Os municípios de Mato Grosso do Sul que fazem fronteira com os países vizinhos são responsáveis por 2 a cada 10 assassinatos no Estado este ano, registro impulsionado pela “guerra” de facções que tentam tomar o controle do tráfico na região fronteiriça.

Em Mato Grosso do Sul, 13 municípios fazem fronteira com Paraguai e Bolívia, são eles: Corumbá, Ladário, Porto Murtinho, Caracol, Bela Vista, Antônio João, Ponta Porã, Aral Moreira, Coronel Sapucaia, Paranhos, Sete Quedas, Japorã e Mundo Novo.

Para efeito de comparação, as cidades citadas representam 12,15% da população do Estado, visto que somam cerca de 335 mil habitantes de um total de 2,75 milhões de sul-mato-grossenses, conforme o último Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022.

Segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), os municípios que fazem fronteira com países vizinhos já registraram 75 vítimas de homicídios dolosos na região fronteiriça este ano, o que representa 21,43% dos assassinatos no Estado.

Além disso, em relação ao mesmo período do ano passado, ou seja, de janeiro a outubro, houve um aumento de 27,12% nas vítimas de homicídio doloso. Em 2024, foram 59 assassinados na fronteira.

É importante frisar que todos os números citados são dos casos que ficam sob responsabilidade de Mato Grosso do Sul, já que os assassinados do “outro lado do muro” são de encargo das forças policiais estrangeiras, seja no Paraguai ou na Bolívia.

CAMPO GRANDE

Um dos fatores que permitem demonstrar que a região de fronteira segue sendo uma das maiores preocupações da segurança pública do Estado é análise dos dados de Campo Grande, que concentra mais de 32% da população de Mato Grosso do Sul, e que registrou, até o momento, apenas 40 homicídios a mais (33% do total deste ano) que os 13 municípios fronteiriços somados.

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Contudo, mesmo que a Capital esteja distante das regiões de fronteira, ainda é local de disputa de organizações criminosas, o que preocupa as autoridades estaduais, conforme revelou o comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) em Mato Grosso do Sul, major da PM Rafael Custódio Alves, durante podcast do Ministério Público, no mês passado.

“Eu percebo que crimes que, antes, ocorriam em locais de disputa, áreas de fronteira, hoje, ocorrem em Campo Grande. A guerra para tomar o poder gera homicídios, quando alguém assume, dá aquela tranquilizada”, destacou o oficial, que caracterizou o Estado como uma importante rota para o tráfico internacional de drogas.

FACÇÕES

Não é novidade que as duas maiores organizações criminosas do Brasil, Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), também atuam e competem por territórios de tráfico de drogas em Mato Grosso do Sul.

O aumento das mortes pode estar relacionado ao fim da trégua entre as duas maiores facções do País, que teria acabado no começo deste ano. Desde então, algumas mortes relacionadas à disputa por território chamaram a atenção, como as de Coronel Sapucaia.

Em julho deste ano, o Correio do Estado relatou que Coronel Sapucaia foi transformada em um verdadeiro faroeste, por causa das disputas entre as duas facções, com sete assassinatos na região no mês. A cidade faz fronteira com Capitán Bado, no Paraguai.

À época, um dos executados era sobrinho do narcotraficante Felipe Escurra, conhecido como Barón, que é ligado ao Comando Vermelho e conhecido na região de fronteira como “chefe da maconha”. Atualmente, Barón está foragido e é procurado por crimes no Paraguai e no Brasil.

ÚLTIMOS CASOS

Em um dos casos mais recente da luta por espaço entre as facções, na noite de quinta-feira, um homem de 28 anos, identificado como Rodrigo Fernandes Duarte, foi encontrado morto na MS-164, em Ponta Porã, cidade que faz divisa com o Paraguai. Segundo informações policiais, trata-se de uma execução, visto que foram avistados mais de 17 tiros de pistola no corpo da vítima, além de estar com as mãos algemadas.

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Este não foi o único caso na semana passada. No dia 14, o paraguaio Alcides Ramirez, de 34 anos, também foi executado com disparos na boca e peito, e seu corpo foi enrolado em uma lona preta e amarrado. Ele foi encontrado em Zanja Pytá, povoado paraguaio que faz fronteira com Sanga Puitã, distrito de Ponta Porã. A ocorrência segue em investigação por parte das forças paraguaias.

No caso mais recente, um homem foi morto ontem, em Pedro Juan Caballero. Jonathan Medeiro da Fonseca, de 36 anos, foi executado no estacionamento do Shopping China. O brasileiro concorreu a vereador nas eleições de 2024 pelo município de Coronel Sapucaia. A vítima foi executada na tarde de ontem, atingida por pelo menos 16 tiros na cabeça, rosto e peito.

Segundo informações da Polícia Nacional, a vítima veio de Capitán Bado, no Paraguai, até Pedro Juan Caballero, e, ao se aproximarem da caminhonete no estacionamento do shopping, foram alvejados por balas calibre 9 mm.

Além de Jonathan, o amigo dele, Eduardo Flor Cantaluppi, de 22 anos e de nacionalidade paraguaia, também foi alvejado. Informações preliminares indicam que os pistoleiros estavam em dois veículos.

*SAIBA

De acordo com levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), os homicídios ocultos em Mato Grosso do Sul aumentaram 164% de 2019 a 2022, saltando de 34 para 90, respectivamente.

Os homicídios ocultos são aquelas mortes que não constam nas estatísticas de homicídio por vários motivos, como a falta de solução do caso e identificação dos autores ou até mesmo casos que foram solucionados posteriormente, mas os dados não foram atualizados e alterados para “homicídio”.

Muitos desses óbitos são registradas apenas como “morte a esclarecer” ou “morte suspeita”.

Correio do Estado

 

 

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