Bolsonaros encurralados: condenação avança, anistia esfria e família implode

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No dia 14 de novembro, o país poderá testemunhar o início do desmonte definitivo de uma dinastia política marcada por autoritarismo, desinformação e delírios persecutórios. No mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal decidirá sobre a conversão da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro em regime fechado, seu filho Eduardo Bolsonaro se tornará réu por coação no curso do processo do golpe de 8 de janeiro.

Em declínio jurídico, político e simbólico, o clã Bolsonaro chega ao ponto mais agudo de sua corrosão. A derrocada dos Bolsonaro não se dá em um vácuo histórico. É, antes, o desfecho natural de um projeto de poder que desde o início se sustentou na negação da política institucional, no confronto com as instituições democráticas e na mitificação de lideranças autoritárias — Trump à frente.

Em um movimento que mistura amadorismo e autodestruição, Jair e Eduardo protagonizam uma espécie de tragédia farsesca: produzem os próprios crimes, expõem suas provas e ainda dificultam a própria defesa. A realidade, como diria Hannah Arendt, se impõe mesmo aos que tentam governar a partir da mentira.

No dia 14 de novembro, termina no plenário virtual da Primeira Turma do STF o julgamento do recurso apresentado pela defesa de Bolsonaro contra a condenação a 27 anos e três meses de prisão por sua participação na tentativa de golpe de Estado.

Fim de recurso e começo pra Eduardo

A rejeição do recurso, considerada certa por analistas jurídicos e fontes do tribunal, coloca o ex-presidente a um passo do regime fechado, com uma possível escala no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, antes de um eventual pedido de reclusão domiciliar humanitária.

No mesmo dia, começa o julgamento da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o filho 02, Eduardo Bolsonaro por coação de autoridades envolvidas no processo golpista. O deputado federal, atualmente autoexilado nos Estados Unidos, deve se tornar réu, aprofundando o isolamento jurídico e político da família.

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A desordem emocional de Eduardo, antes uma nota de rodapé, torna-se agora elemento relevante para a compreensão do bolsonarismo em declínio. Em reação à reaproximação entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump — consolidada em encontro na Malásia —, Eduardo publicou mensagens cripticamente paranoicas nas redes sociais, sugerindo, sem provas, que havia acordos secretos entre os dois líderes.

A realidade, no entanto, foi outra: Trump elogiou Lula publicamente, desejou-lhe feliz aniversário e disse sentir-se “honrado” em encontrá-lo. A tentativa de Eduardo de resgatar o espírito trumpista fracassou espetacularmente.

O comportamento do deputado já é visto por analistas como um caso clássico de descompasso entre realidade e fantasia política. Em entrevista à BBC Brasil, o cientista político Christian Lynch, da Fundação Getúlio Vargas, definiu o bolsonarismo como “um populismo com traços regressivos”, onde a fidelidade emocional à liderança substitui qualquer racionalidade programática.

Loucura ¿

O caso de Eduardo parece encarnar essa lógica ao extremo: narcisismo, paranoia e negacionismo operam como forma de autodefesa diante de uma realidade que o desautoriza.

Mas a implosão do bolsonarismo também se dá no plano estrutural. No Congresso, o PL da Dosimetria — que pretendia reduzir penas dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro — está travado. O projeto perdeu força após a crise gerada pela PEC da Blindagem, que enfrentou repúdio público e foi engavetada pelo Senado.

A falta de apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o foco recente da Câmara na segurança pública após a megaoperação contra o Comando Vermelho, também ajudaram a empurrar a proposta para o limbo legislativo.

Segundo o cientista político Leandro Consentino, do Insper, “essa pauta vai perdendo o timing e ficando velha. Além de não agradar nem à esquerda nem à direita, acabou naufragando”. Mesmo dentro da oposição, a proposta de anistia ampla, geral e irrestrita não encontra mais a mesma coesão de meses atrás. O cenário, agora, é de esvaziamento e dispersão, com parlamentares evitando desgastes públicos em defesa de um projeto impopular.

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Mudanças políticas isola mais

O isolamento de Bolsonaro se completa com a mudança de ventos na geopolítica. Após meses de tensão diplomática — marcados por tarifas comerciais dos EUA contra o Brasil e tentativas frustradas de Eduardo Bolsonaro de influenciar o Judiciário brasileiro por meio de pressão internacional — o Itamaraty conseguiu reabrir diálogo com Washington.

O encontro entre Lula e Trump é um símbolo da inflexão: a tentativa de polarização internacional bolsonarista foi desfeita pela diplomacia e pela política realista. Como afirmou o cientista político Antonio Lavareda à Folha de S.Paulo, “a reação de Lula e do governo brasileiro ao tarifário e às sanções de Trump teve papel decisivo na recuperação da imagem do presidente”.

De fato, a combinação de uma comunicação mais assertiva do governo e a capacidade de Lula em transformar conflitos em diálogo estão reconfigurando o cenário para 2026. A ascensão do presidente nas pesquisas corrói as chances eleitorais do principal nome da direita para a próxima disputa: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que começa a perder espaço político e visibilidade.

O bolsonarismo, que já enfrentava dificuldades para renovar sua agenda, agora também carece de herdeiros viáveis.

No fim, o colapso da família Bolsonaro parece menos uma surpresa e mais uma conclusão inevitável. De uma liderança que zombava da democracia e flertava com a ruptura institucional, resta agora um ex-presidente à beira do cárcere e um deputado errático que se tornou caricatura de si mesmo. A catapora mencionada com ironia — que coça, incha e deixa marcas eternas — virou símbolo de uma família que, ao se achar acima da lei, acabou devorada por ela.

Fonte: Semana ON

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