Há duas fórmulas infalíveis para se perder uma eleição: a primeira é o já clássico “já ganhou”, o otimismo arrogante e desconectado da realidade. A segunda é o “salto alto”, a recusa em reconhecer que eleição se vence no detalhe, no corpo a corpo, no voto suado, inclusive em redutos adversários. Reinaldo Azambuja (PL), ex-governador de Mato Grosso do Sul, parece ter adotado as duas ao mesmo tempo — e o resultado disso tende a ser, mais uma vez, desastroso.
Azambuja se comporta como senador eleito antes mesmo do primeiro voto ser contado. A soberba é tamanha que já circula nos bastidores como figura de referência no cenário nacional do seu partido, discutindo apoios, alianças e nomeações como se seu futuro estivesse selado. Mas não está. O eleitor sul-mato-grossense é experiente e já deu lições duras a quem menospreza o voto popular.
O que Reinaldo e seus aliados convenientemente esquecem é que o ex-governador carrega nas costas uma ficha nada honrosa. Réu em ação penal derivada da Operação Vostok, Azambuja responde por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Trata-se de acusações gravíssimas, embasadas por robustas investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, envolvendo propinas milionárias supostamente recebidas durante seus mandatos à frente do governo do Estado.
Como alguém em tal condição pode subir num palanque e falar em “renovação”, “ética” ou “compromisso com o povo”? Como pode circular em Brasília articulando acordos, quando deveria estar explicando à Justiça as movimentações financeiras suspeitas e as delações que o colocam no centro de um esquema criminoso?
A postura de Azambuja escancara não apenas arrogância, mas também um desrespeito ao eleitorado. A velha tática do “faz de conta que não é comigo” talvez tenha funcionado em outros tempos, mas os ventos da política mudaram. Hoje, o eleitor quer respostas, prestação de contas e, acima de tudo, humildade.
Se Reinaldo Azambuja quiser mesmo um assento no Senado, precisará sair do pedestal, calçar sapatos mais simples e caminhar de verdade — ao encontro do povo. Vai ter que pedir voto, inclusive onde não se sente à vontade. E, acima de tudo, terá que encarar o passado que tenta esconder debaixo do tapete.
A campanha não acabou. E como a história já mostrou, quem se acha eleito antes da hora costuma ser derrotado pelo próprio reflexo no espelho.