Brasília – DF – Na eminência dos três anos dos atos extremistas que resultaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), parece ter virado a página do episódio que marcou o início de seu mandato. Ele não participou dos eventos oficiais de um ano dos atos, pois estava de férias em Miami, nos Estados Unidos, e, em 2025, também estava de férias e ausente das solenidades de dois anos.
A ausência nas comemorações contrasta com o desfecho judicial favorável que o governador obteve, sendo um dos poucos personagens envolvidos no enredo golpista a conseguir sair do caso praticamente ileso, correligionário ferrenho de Michel Temer (MDB), que indicou o Ministro Alexandre de Moraes.
Do Afastamento à Soneca
Ibaneis Rocha foi alvo de um inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investigava sua suposta omissão durante os ataques. Na madrugada de 9 de janeiro de 2023, ele foi afastado do cargo por determinação do ministro Alexandre de Moraes, que citou “diversos e fortíssimos indícios” de “graves falhas na atuação dos órgãos de segurança pública do Distrito Federal”. Moraes chegou a apontar uma “conduta dolosamente omissiva” e “conivência”.
O governador permaneceu afastado por 66 dias, retornando ao cargo após decisão do próprio ministro.
No entanto, o que mais chamou a atenção no dia dos ataques foi a sua ausência de comunicação. Ibaneis estava em sua fazenda e não atendeu ligações do ministro da Justiça e da então presidente do STF, Rosa Weber, e do vice-presidente do Congresso, Veneziano Vital. O próprio governador revelou, em troca de mensagens com o empresário e ex-senador Luiz Estevão, que tirou uma “soneca” na tarde do dia 8 de janeiro. A justificativa veio após Estevão comentar que um áudio tranquilizador enviado pelo então secretário-executivo de Segurança Pública, Fernando de Souza Oliveira (que dizia que a situação estava “ordeira e pacífica” ao meio-dia), “dá para tirar uma soneca”. O governador respondeu: “Foi o que fiz”.
Alertas Ignorados e Falhas Evidentes
Relatórios da Polícia Federal (PF) indicaram que o governador havia minimizado alertas prévios. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e o ministro da Justiça, Flávio Dino, alertaram Ibaneis sobre o risco de ataques. Na noite anterior, Pacheco questionou Ibaneis sobre a “mobilização e invasão ao Congresso”, e Ibaneis garantiu: “Já estamos mobilizados. Não teremos problemas, coloquei todas as forças nas ruas”.
Ibaneis também não adotou medidas após receber um ofício de Dino que alertava sobre a intenção dos manifestantes de “promover ações hostis e danos” contra os prédios públicos. Em vez de atender à recomendação de bloqueio, Ibaneis afirmou à imprensa que o acesso à Esplanada estaria liberado, convicto de que a manifestação seria pacífica.
A PF concluiu que as “falhas da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF) no enfrentamento das manifestações de 08/01/2023 são evidentes”. A investigação apontou que a ausência de articulação e de difusão de dados comprometeu a capacidade de antecipar e enfrentar os atos de violência. Embora o relatório da PF enviado ao STF citasse Ibaneis, ele não sugeriu indiciamentos.
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro também avaliou que o governador agiu com “extrema negligência” e tinha “pleno conhecimento do risco de atos violentos”, mas ignorou a situação preocupante.

Reabilitação Judicial e Carreira Política
Apesar das fortes acusações e da evidência de negligência, a estratégia jurídica de Ibaneis foi decisiva. A defesa adotou o silêncio e a discrição, prestando depoimento e entregando voluntariamente o celular à polícia.
Em março de 2025 (data da publicação de uma das fontes), o ministro Alexandre de Moraes decidiu arquivar o inquérito que apurava sua suposta omissão. Moraes acolheu um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) que afirmou não haver provas de que Ibaneis se omitiu ou favoreceu os atos. A investigação da PF também não encontrou indícios de que o governador agiu para impedir a repressão. O Ministério Público Federal (MPF) já havia arquivado o inquérito em fevereiro de 2024, concluindo que, embora houvesse falha no serviço de inteligência ou erro no fluxo de informações, não se verificava uma “conduta intencional de facilitar os atos criminosos”.
Reabilitado, o governador garante não guardar mágoas de seu afastamento e já planeja seu futuro político, buscando disputar uma cadeira de senador em 2026 e construindo uma aliança com o PL de Jair Bolsonaro. Questionado sobre o afastamento, ele resumiu sua postura: “Respeito a decisão dele”. O político que escapou da investigação parece ter optado por deixar o 8 de Janeiro no passado.



















