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Movimentos Sociais lançam campanha de solidariedade a Indigenas de Caarapó onde forças policiais do governo Riedel geram conflitos

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A Central Única dos Trabalhadores de Mato Grosso do Sul (CUT-MS) realizou, na noite de terça-feira (30), uma reunião emergencial para discutir a grave situação enfrentada pela retomada da comunidade Guarani e Kaiowá de Guyraroká, localizada no município de Caarapó (MS). O encontro foi convocado após a visita do Professor Francisco, Secretário de Direitos Humanos e Políticas Sociais da CUT-MS, que esteve na região, em comitiva junto com a Deputada Estadual Gleice Jane (PT), na última sexta-feira (29), ele relatou um cenário “de guerra e cerco” contra o povo indígena.

A comunidade de Guyraroká trava há décadas uma luta pela demarcação de seu território tradicional. O local é um dos símbolos da resistência Guarani e Kaiowá, povo que sofre historicamente com a expulsão de suas terras, a exposição aos agrotóxicos e a violência de jagunços de fazendas agrícolas na região sul do estado, hoje um dos epicentros do agronegócio nacional. A área era utilizada para pasto de gado, mas em 2018 os fazendeiros mudaram o uso do solo para plantio de soja e milho.

“Estamos na reivindicação há trinta anos aguardando a resposta da demarcação de território, trinta anos morando embaixo da lona. Sempre batalhamos para produzir, até 2020 a gente plantava arroz pra sustento da comunidade, tirava 40 sacos de amendoim, abóbora, milho, melancia, melão, batata, mas hoje a gente não consegue mais, então chegou o momento que acabou a paciência”, contou uma das lideranças indígenas que pediu para não ter o nome revelado, por motivos de segurança.

Chuvas recentes e ventos de até 80km por hora, levaram lonas de barracos improvisados, aumentando a vulnerabilidade da comunidade de Guyraroká, ataques de jagunços levaram utensílios domésticos de gerações.

Durante a visita, o Professor Francisco descreveu a realidade vivida pelos indígenas como uma das experiências mais marcantes de sua trajetória sindical e humana.

“É uma experiência de tensão e de medo, mas, sobretudo, de muita consciência política e solidariedade. O que vimos ali foi uma situação de extrema vulnerabilidade. Crianças, mulheres e idosos vivendo sob ameaça constante, com o ar, a comida e a água contaminados por agrotóxicos pulverizados nas lavouras vizinhas”, relatou o dirigente.

A denúncia sobre o impacto direto dos agrotóxicos na escola e nas moradias da comunidade também foi feita pela deputada estadual Gleice Jane (PT), que esteve em Guyraroká na última sexta-feira. Em um vídeo publicado nas redes sociais, a parlamentar mostra que há menos de 30 passos entre a cerca da fazenda e a escola onde estudam as crianças indígenas.

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“A Terra Indígena Guyraroka, em Caarapó, e a Terra Indígena Passo Piraju, em Dourados, pedem socorro e solidariedade. Hoje estivemos em visita a essas comunidades, levando nosso apoio diante da violência sistemática praticada contra o povo Guarani e Kaiowá. A pulverização aérea aqui, tem intoxicado e contaminado as crianças muito de perto”, disse a Deputada Estadual em suas redes sociais.

A visita da comitiva esteve longe de ser um simples deslocamento. Segundo o Professor Francisco, o trajeto até o local foi marcado por tensão e obstáculos. No caminho, o grupo se deparou com três barreiras montadas pelo Departamento de Operações de Fronteira (DOF/MS) e com a presença da Força Nacional, que acompanhava um servidor do Ministério dos Povos Indígenas.

Foram cerca de 30 quilômetros de estrada de terra, onde puderam notar plantações de soja, até chegar à área de retomada. No local, o dirigente ouviu da comunidade relatos de ataques de jagunços, tensão com a tropa de choque da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul e a destruição de barracos erguidos pelas famílias indígenas.

A situação mobilizou a direção estadual da CUT e organizações parceiras, que se reuniram de forma virtual para definir medidas urgentes de apoio à comunidade.

Ações a serem desenvolvidas

De acordo com o Professor Francisco, quatro encaminhamentos principais foram aprovados:

– Campanha de Solidariedade: será lançada uma campanha estadual de arrecadação de alimentos, roupas, brinquedos e produtos de higiene, destinados às famílias da comunidade Guyraroká e de outras áreas de retomada indígena.
– Cobrança de Segurança: a CUT-MS, movimentos sociais e entidades parceiras, enviarão ofícios aos governos federal e estadual cobrando proteção efetiva aos povos Guarani e Kaiowá, diante das ameaças e ações de violência registradas na região.
– Apoio à Saúde: será solicitado à Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) um plano emergencial de contingência para atendimento médico, psicológico e sanitário das comunidades afetadas.
– Debate Permanente: a Central promoverá um debate ampliado sobre a situação dos povos indígenas em Mato Grosso do Sul, com a presença de movimentos sociais, sindicatos e universidades, para fortalecer a pressão política e a solidariedade social.

“O que vimos em Guyraroká é um retrato do abandono e da negligência do Estado. Mas também vimos resistência. A luta dos Guarani e Kaiowá é pela vida, e nós, enquanto sociedade, não podemos permanecer em silêncio”, concluiu o Professor Francisco.

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“A CUT-MS está à disposição para contribuir em todas as frentes dessa mobilização, na campanha de arrecadação, na criação da caravana e em qualquer ação que seja necessária para apoiar a comunidade de Guyraroká e demais áreas de retomada. A situação dos povos indígenas em nosso estado é de extrema vulnerabilidade, especialmente nessa relação desigual com o agronegócio, que impõe violência, envenenamento e exclusão”, disse Vilson Gregório, Presidente da CUT-MS.

Historicamente aliada e solidária aos povos indígenas, a CUT-MS recentemente participou de uma iniciativa de apoio e solidariedade aos povos indígenas da cidade de Amambai-MS.

A Central reforça que a defesa dos direitos humanos e a solidariedade entre os povos são princípios históricos do movimento sindical. A CUT-MS também faz um chamado aos sindicatos, federações e confederações filiadas, para que se somem à campanha e ampliem a rede de apoio nacional aos povos indígenas de Ms.

Contexto histórico

A Terra Indígena Guyraroká foi identificada e delimitada pela Funai em 2009, com área de cerca de 11 mil hectares, mas o processo de demarcação foi suspenso por decisão judicial em 2014, após pressão de fazendeiros locais.

Desde então, a comunidade vive confinada em pequenas áreas, sob constante ameaça e cercada por plantações de soja e milho, onde o uso intensivo de agrotóxicos compromete o ambiente e a saúde da população. A comunidade Guyraroká conta com aproximadamente 120 pessoas, 12 bebês e 37 crianças, 4 gestantes e seis idosos.

Organizações de direitos humanos e ambientais vêm alertando há anos para o avanço da contaminação e para os impactos sociais da demora na demarcação. Segundo levantamento do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), o Mato Grosso do Sul concentra alguns dos maiores índices de violência contra povos indígenas no país, incluindo assassinatos, ameaças e tentativas de expulsão.

“Estamos aqui na resistência, vamos resistir, até o último indígena, nós somos o que restou dos povos Guarani e Kaiowá, vamos resistir por nossa área, independente da situação”, reforçou a liderança indígena.

Campanha de solidariedade

A CUT-MS informou que, nos próximos dias, divulgará os pontos oficiais de coleta de doações e as chaves PIX para contribuições financeiras. Todos os itens arrecadados serão encaminhados diretamente às comunidades Guarani e Kaiowá de Guyraroká e de outras áreas de retomada no estado.

A Central também pretende levar o tema à direção nacional da CUT, buscando articular uma campanha nacional de apoio aos povos indígenas e pressionar por medidas concretas de proteção e justiça

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