Polícia do Governo Riedel que a um mês ataca Indígenas tem auge na sexta-feira ferindo dezenas em Caarapó

(Foto: divulgação CIMI)

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A quase um mês indígenas da etnia Guarani e Kaiowá estão sendo atacados e feridos na Terra Guyraroká, no município de Caarapó, região Sul de Mato Grosso do Sul. O pior que o ataque vem pelo Estado, com Força de Segurança do Governo de Eduardo Riedel, que segundo as vítimas e o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), não veem motivo, além de expulsar a população do local, que é uma retomada em processo judicial quase concluso, mas que não chega ao fim.

A semana passada toda, teve ataque com a Tropa de Choque da PM (Polícia Militar de MS), avançando sobre área reivindicada como terra indígena e ferindo ao menos 11, entre eles a líder Valdelice Veron. Veja abaixo, detalhes que terra foi declarada como indígena em 2009 e como o povo tradicional, veem enfrentando a violência e envenenamento com as pulverizações na fazenda.

O Pauta Diária já sabia dos ataques, mas vem a noticiar nesta segunda-feira (20), pois esperava respostas do Governo do Estado, pois desde 23 de setembro, noticiamos, ‘Tropa de Choque da PM de Riedel ataca retomada de Indígenas ante acordo em andamento e sem a chegada da Funai no interior de MS’. E dois dias depois, as ‘Polícias de Riedel atacam Povos Indígenas duas vezes seguidas nesta semana levando Deputada cobrar explicação do Governo’,

Neste período de praticamente um mês, ocorreram outras investidas de fazendeiros e da PM. Mas, desta vez, ao menos 11 indígenas ficaram feridos após ação violenta da Tropa de Choque na última sexta-feira (17), na fazenda Ipuitã, área em processo de retomada indígena na Terra Guyraroká, de Caarapó. Segundo o CIMI, os disparos de balas de borracha ocorreram durante uma ofensiva policial que escoltava tratores sobre a área reivindicada pela comunidade.

Movimentos lançam campanha de solidariedade a Indígenas de Caarapó onde forças policiais de Riedel geram conflitos

Operação Campo Seguro denomina a PM

A operação foi justificada pela PM como parte da “restauração da ordem pública”, mas vídeos gravados pela própria comunidade mostram viaturas avançando sobre os indígenas e o uso intensivo de bombas de gás e armamentos não letais. Valdelice Veron foi atingida no peito e na barriga, mas permaneceu na área após atendimento no local. Outras três mulheres, um garoto de 14 anos e duas gestantes ficaram feridos — cinco deles intoxicados por gás lacrimogêneo.

A ofensiva da Tropa de Choque da PM, que até não teria jurisprudência no local, ou deveria estar acompanhada de Forças de Segurança Federal, aconteceu no contexto da até denominada ‘Operação Campo Seguro’, deflagrada ante boletim de ocorrência rde funcionários da fazenda, alegando impedimento de acesso à propriedade. A PM-MS afirma ter apreendido duas armas com os indígenas e diz ter atuado “de forma técnica, legal e proporcional”.

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A comunidade nega qualquer tipo de ataque armado e afirma que estava bloqueando, de forma pacífica, uma estrada vicinal desde a quinta-feira (16) em protesto contra o avanço de sete tratores usados para a pulverização de agrotóxicos na região.

O bloqueio, segundo os indígenas, buscava impedir que novos produtos químicos fossem despejados sobre as casas, escola e a Casa de Reza. “A vida do nosso povo está em jogo. Não vamos mais tomar chuva de veneno calados”, disse um membro da comunidade, sob anonimato por motivos de segurança.

A terra que é, mas não é

A terra onde os confrontos ocorrem foi declarada como pertencente aos Guarani e Kaiowá em 2009. Em 2011, a Funai (Fundação Nacional do Índio) delimitou oficialmente a Terra Indígena Guyraroká em 11.401 hectares. Porém, em 2016, o STF (Supremo Tribunal Federal), suspendeu o procedimento administrativo, após decisão da Segunda Turma, relatada pelo ministro Gilmar Mendes, que questionou o marco temporal.

Desde então, o processo está parado no STF. Enquanto isso, cerca de 200 indígenas vivem confinados em apenas 50 hectares, em situação que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) descreveu, em 2019, como “sem condições mínimas de dignidade”.

A CIDH emitiu medida cautelar ainda vigente, obrigando o Estado brasileiro a garantir a vida e a integridade dos povos da Guyraroká. Nada foi feito.

Envenenados

Conforme o CIMI, desde 2018, os Guarani e Kaiowá denunciam pulverizações constantes sobre suas casas, plantações e escola. Em maio de 2019, seis crianças e adolescentes precisaram de atendimento médico após intoxicação com calcário e agrotóxicos na Fazenda Remanso, vizinha à escola indígena.

Em 2024, Erileide Guarani Kaiowá, líder da Aty Guasu, denunciou os ataques como “químicos” durante sessão da ONU em Genebra.

“O cheiro é insuportável, um horror. Infelizmente isso se normalizou. Só que, diferente do capim-amargoso, nós somos seres humanos”, declarou Erileide em 30 de outubro de 2024. A fala remete ao termo ofensivo usado contra os indígenas — comparando-os à planta resistente a venenos que só se elimina “na enxada”.

A Defensoria Pública da União (DPU) e o Ministério Público Federal (MPF) ajuizaram ações para investigar os despejos aéreos e terrestres de agrotóxicos sobre as aldeias. Em julho de 2025, operação do Ibama com a Força Nacional apreendeu 202 kg de agrotóxicos contrabandeados do Paraguai, escondidos em depósitos clandestinos dentro da fazenda Ipuitã, já reconhecida como terra indígena.

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De promessas à traição

Após os primeiros ataques em setembro, representantes do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e da Funai foram à região e prometeram mediar um acordo para interromper as pulverizações. O governo chegou a propor a criação de uma “área de amortecimento” — alternativa rejeitada pelos indígenas.

“Quando não aceitamos, simplesmente nos abandonaram”, afirmou um indígena. Desde então, a retomada vive sob monitoramento diário por drones, presença militar e risco constante de despejo sem ordem judicial.

O MPI afirma que acompanha o caso e que acionou órgãos competentes, mas o cenário permanece o mesmo: conflito, impunidade e desproteção institucional.

Um retrato da crise antes da COP30

A poucos meses da Conferência do Clima da ONU (COP30), que será sediada pelo Brasil, a situação vivida pelos Guarani e Kaiowá escancara o abismo entre o discurso ambiental do governo Lula e a realidade nos territórios indígenas.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) afirma que 104 processos de demarcação de terras indígenas aguardam decisão do Executivo. Destes, 37 dependem do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e 67 da assinatura direta do presidente.

Enquanto isso, os povos originários, que há séculos protegem a biodiversidade do Cerrado e do Pantanal, enfrentam tiros, agrotóxicos e descaso institucional.

Caso Junior Concianza: violência que se repete

A escalada da violência atinge também outras comunidades indígenas em Mato Grosso do Sul. No dia 16, um dia antes da operação em Guyraroká, o jovem Guarani e Kaiowá Junior Concianza Severino, de 24 anos, foi morto por policiais militares na aldeia Panambizinho, em Dourados.

Diagnosticado como Pessoa com Deficiência Psicossocial (PcD), Junior teria se assustado com a presença do Samu e da polícia. Sua mãe, Fineida Concianza, presenciou toda a ação:

“Ele não estava em surto. Estava com medo. Deram um tiro na barriga, depois outro no ombro. Caiu morto nos meus pés”, relatou ao site Campo Grande News. A PM alegou “uso progressivo da força” e disse que ele tentou tomar a arma de um policial. Um processo administrativo foi aberto.

A terra fala, mas ninguém escuta

A situação dos Guarani e Kaiowá em Guyraroká resume o paradoxo histórico da política indigenista no Brasil: um Estado que reconhece, mas não protege; que promete, mas não cumpre. Um país que será palco de discursos ambientais em 2025, mas permite que povos originários vivam sob ataques diários — com bala, gás e veneno.

Enquanto o STF não julga, o Executivo não assina e as instituições se omitem, a retomada segue sendo o único antídoto possível ao veneno.

 

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