Distrito Federal

Celina Leão e a Operação Drácon, absolvição nos autos e julgamento permanente da opinião pública

publicidade

A sentença encerra o processo criminal, mas não dissipa as dúvidas políticas que a Operação Drácon deixou no Distrito Federal

 

A absolvição de Celina Leão no caso da Operação Drácon, decretada em março de 2025, encerra um dos capítulos mais ruidosos da política do Distrito Federal nos últimos anos, ao menos no plano jurídico. O desfecho judicial, embora relevante, está longe de encerrar o debate político, ético e institucional que o episódio impõe à sociedade brasiliense.

É fato que a Justiça concluiu não haver provas suficientes para condenar a atual vice-governadora por corrupção passiva. Testemunhas não confirmaram a cobrança de propina, as gravações clandestinas não foram consideradas conclusivas e um dos áudios acabou sendo interpretado em favor da defesa. No processo penal, a regra é clara. Na dúvida, absolve-se. E assim foi feito.

O problema é que a política não se orienta apenas pelo Código Penal.

A Operação Drácon expôs, ainda em 2016, um modo de funcionamento da Câmara Legislativa que, mesmo sem condenação criminal para seus principais personagens, revelou fragilidades graves no controle do orçamento público, na transparência das emendas parlamentares e na relação entre agentes políticos e fornecedores do Estado. O simples fato de se discutir a destinação de 30 milhões de reais em conversas gravadas, ainda que juridicamente insuficientes para condenação, diz muito sobre a cultura política que imperava, e talvez ainda impere, nos bastidores do poder local.

Leia Também:  TCDF libera obras do Hospital do Recanto das Emas

A absolvição de Celina Leão não elimina o desgaste institucional imposto à CLDF, tampouco responde plenamente às perguntas que ficaram sem resposta para a população. Porque emendas originalmente destinadas à educação passaram a beneficiar outros setores? Porque diálogos tão sensíveis ocorreram fora dos canais formais? E porque o Distrito Federal insiste em confundir absolvição judicial com certificado automático de virtude política?

Ao tratar o fim do processo como um ponto final definitivo e afirmar que a decisão acaba com muita fofoca, a vice-governadora aposta em uma estratégia recorrente da política brasileira. Transformar a ausência de condenação em capital moral. Funciona eleitoralmente, mas empobrece o debate público.

Não se trata de negar o direito à absolvição nem de substituir o Judiciário por condenação política sumária. Trata-se de reconhecer que responsabilidade política é mais ampla do que responsabilidade penal. Governantes e pré-candidatos a cargos majoritários precisam responder não apenas se cometeram crimes, mas se contribuíram para práticas que corroem a confiança da sociedade nas instituições.

A Operação Drácon pode ter terminado sem condenações para a cúpula política, mas deixou uma lição incômoda. No Distrito Federal, escândalos passam, processos se arrastam, provas se diluem e o sistema segue praticamente intacto.

Leia Também:  ‘Contador do Crime’ é condenado a 3 anos de prisão por fraude na transferência de empresas

Celina Leão sai absolvida dos tribunais, mas permanece sob o escrutínio de um eleitorado que já viu esse roteiro antes e sabe que, na política, nem toda estrada considerada limpa nos autos é necessariamente reta na consciência coletiva.

COMENTE ABAIXO:

Compartilhe essa Notícia

publicidade

publicidade

publicidade

Previous slide
Next slide

publicidade

Previous slide
Next slide