O MPMS (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul), por meio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), ofereceu denúncia contra o deputado estadual Neno Razuk (PL), seu pai, o ex-deputado Roberto Razuk, e seus irmãos, Jorge Razuk Neto e Rafael Godoy Razuk.
A peça acusatória, protocolada no dia 10 de dezembro de 2025 no âmbito da 4ª fase da Operação Successione, aponta o clã como a cúpula de uma organização criminosa armada dedicada à exploração ilegal de jogos de azar, corrupção, lavagem de dinheiro e roubos para assegurar o monopólio da contravenção no estado.
Ao todo, 20 pessoas foram denunciadas. O MPMS requer, além da condenação pelos crimes imputados, o pagamento de R$ 36 milhões a título de reparação de danos, conforme o artigo 7.º, inciso I, da Lei de Lavagem de Dinheiro.
Sucessão pelo monopólio
De acordo com o documento, a investigação identificou que, após a desarticulação da organização criminosa liderada pela família Name (alvo da Operação Omertà), o grupo liderado pelos Razuk iniciou uma ofensiva para preencher o vácuo de poder e assumir o “monopólio do jogo do bicho” em Campo Grande e regiões estratégicas.
A denúncia detalha que a organização agia de forma violenta e estruturada. O Gaeco aponta que o grupo não apenas explorava a atividade ilícita, mas utilizava um aparato armado para cometer “roubos majorados” contra grupos rivais, visando enfraquecer a concorrência e tomar pontos de aposta à força.
“A organização criminosa se mantém ativa e atuante […] visando seu principal objetivo: estabelecer o monopólio do jogo do bicho em Campo Grande, bem como manter o jogo do bicho em funcionamento em outras cidades do Estado, notadamente em Dourados e Região”, aponta um trecho do documento.
Hierarquia familiar e divisão de tarefas
A acusação do MPMS ainda descreve uma estrutura hierárquica clara, onde o patriarca Roberto Razuk e seus filhos ocupam o topo da pirâmide.
Embora Neno Razuk exerça função de chefia operacional, a investigação ressalta que “as questões mais sensíveis à OrCrim são direcionadas e devem ser analisadas e decididas também pelo pai, Roberto Razuk”.
O poderio do patriarca contrasta com as condições de saúde do ex-deputado. Quando preso, Razuk obteve prisão domiciliar em razão da idade avançada somada à quadro pós-operatório em duas cirurgias oncológicas para remoção de tumores na bexiga e no rim. Há poucas semanas, ele precisou ser internado em hospital em Dourados, com quadro ‘gravíssimo’, segundo informou a esposa e ex-prefeita da cidade, Délia Razuk.
O documento do MPMS cita diálogos interceptados que corroboram a liderança do patriarca. Em uma das conversas, Neno Razuk orienta um subordinado a buscar o aval do pai para retomar as atividades ilícitas após uma operação policial: “Dá uma ligada pro meu pai […] ele vai te mandar isso daí, ai se ele não mandar eu vou ter que dar jeito […] Tem que começar a trabalhar logo”.
Os outros irmãos, Rafael Godoy Razuk e Jorge Razuk Neto, são apontados como líderes que atuam na expansão e gestão financeira do esquema. Rafael, inclusive, aparece em interceptações criticando decisões estratégicas do irmão deputado, evidenciando sua participação ativa e voz de comando no grupo.
Tentáculos na legalidade e Lotesul
A denúncia revela ainda que a organização tentou infiltrar-se em atividades lícitas para mascarar a origem dos recursos e ampliar seu domínio. O texto menciona a empresa “Criativa Technology Ltda”, formalmente em nome do denunciado Sérgio Donizete Balthazar, como um instrumento do grupo.
Segundo o MPMS, esta empresa protagonizou uma disputa judicial para suspender a licitação da “Lotesul” (Loteria do Estado de MS), um contrato estimado em mais de R$ 51 milhões anuais. A investigação descobriu que as custas processuais dessa ação judicial foram pagas pessoalmente por Roberto Razuk, o que, para os promotores, comprova a “ingerência financeira direta do líder da OrCrim nas atividades lícitas e ilícitas do grupo”.
O objetivo, segundo a acusação, seria utilizar a legalização da loteria estadual para operar, simultaneamente, o jogo ilegal, dificultando a fiscalização.
Corrupção policial
Para garantir a impunidade e o funcionamento das bancas de apostas “à luz do dia”, a organização contava com uma rede de proteção formada por policiais cooptados. A denúncia cita o Major da reserva Gilberto Luís dos Santos, conhecido como “Coronel” ou “Barba”, como peça-chave no braço armado e na inteligência do grupo.
Em um dos episódios narrados, o grupo teria planejado emboscadas e assassinatos de rivais. O documento transcreve diálogos onde se discute “acelerar” (matar) concorrentes, evidenciando a periculosidade da facção. “O próprio exercício da atividade contravencional pressupõe uma extensa rede de agentes públicos corruptos e lenientes”, destaca o Gaeco.
“Além de comprar a inércia (omissão) dos órgãos de fiscalização (ação policial), a organização criminosa ainda corrompe agentes públicos para a obtenção de informações sigilosas, a exemplo de potenciais investidas”, destaca ainda o documento.
Além da família Razuk, figuram entre os denunciados policiais militares, empresários e gerentes operacionais do esquema:
- Roberto Razuk
- Roberto Razuk Filho (“Neno Razuk”)
- Rafael Godoy Razuk
- Jorge Razuk Neto
- Gilberto Luis dos Santos (“Coronel”)
- Sérgio Donizete Balthazar
- Flavio Henrique Espindola Figueiredo
- Jonathan Gimenez Grance
- Samuel Ozorio Junior
- Odair da Silva Machado
- Gerson Chahuan Tobji
- Marco Aurélio Horta
- Paulo Roberto Franco Ferreira
- Anderson Alberto Gauna
- Willian Ribeiro de Oliveira
- Marcelo Tadeu Cabral
- Jean Cardoso Cavalini
- Paulo do Carmo Sgrinholi
- Willian Augusto Lopes Sgrinholi
- Rhiad Abdulahad
A denúncia aguarda agora o recebimento pelo Judiciário para que se inicie a ação penal.
Outro lado
Procurada pela reportagem, a defesa da família Razuk informou que não foi cientificada do conteúdo da acusação e que assim que for notificada, apresentará a defesa e os devidos esclarecimentos.
JORNAL MIDIAMAX






















