Nas eleições de 2018, o Brasil assistiu ao surgimento do que ficou conhecido como “onda bolsonarista”. Naquele momento, dezenas de políticos foram eleitos impulsionados pelo discurso antipolítica, pelo uso intenso das redes sociais e pela associação direta com a imagem de Jair Bolsonaro.
Passados alguns anos, parte desses eleitos permaneceu fiel à base ideológica original. Outros, no entanto, mudaram de discurso, de alianças e até de posicionamento político, acompanhando o vento mais favorável do momento.
Agora, às vésperas das eleições de 2026, o fenômeno parece ensaiar um retorno — mas com novas características. Em meio ao enfraquecimento político do ex-presidente, às investigações, decisões judiciais e às limitações impostas por seu estado de saúde, surge o que analistas já chamam de “onda bolsonarista 2.0”.
Pré-candidatos de diferentes regiões do país voltam a adotar um mesmo modus operandi: discursos inflamados, ataques às instituições, linguagem simples e provocativa, além da tentativa de se apresentar como herdeiros legítimos de um capital político construído no passado.
O palco principal continua sendo a internet. Vídeos curtos, cortes estratégicos, frases de impacto e a busca constante pelo engajamento o chamado “lacrar” — tornaram-se ferramentas centrais para angariar apoio e votos.
Mas há uma diferença importante em relação a 2018.
Hoje, a internet não esquece — e não perdoa com facilidade. Com poucos cliques, é possível encontrar declarações antigas, postagens apagadas e posicionamentos contraditórios. Pré-candidatos que antes criticavam o bolsonarismo, ou que se afastaram dele quando politicamente conveniente, agora tentam surfar novamente nessa narrativa.
Esse movimento tem sido rapidamente exposto por eleitores, jornalistas independentes e perfis de checagem. O passado digital virou prova, e a coerência passou a ser cobrada com mais rigor.
Especialistas apontam que o eleitorado está mais atento e menos disposto a aceitar mudanças bruscas de discurso sem explicação. A tentativa de capitalizar politicamente um momento de instabilidade pode gerar visibilidade, mas também desconfiança.
A chamada “onda bolsonarista 2.0” mostra que o uso estratégico das redes sociais continua sendo decisivo nas eleições brasileiras. No entanto, também revela um cenário mais maduro, onde a memória digital e o acesso à informação desafiam narrativas oportunistas.
Resta saber se essa nova onda terá força suficiente para se transformar em votos ou se será rapidamente desmascarada antes de chegar às urnas.























