Pré-candidatura ao Palácio do Buriti em 2026 é marcada por concentração de alianças e críticas sobre a redução do debate político e da alternância de poder
A pré-candidatura da vice-governadora Celina Leão (PP) ao Governo do Distrito Federal em 2026 não nasce de um clamor popular espontâneo nem de um debate programático profundo, mas de uma engenharia política cuidadosamente montada para garantir a manutenção do grupo que hoje ocupa o Palácio do Buriti. Sob o rótulo de “continuidade administrativa”, constrói-se, nos bastidores, um projeto marcado pelo pragmatismo eleitoral, pela concentração de poder partidário e pela redução deliberada do espaço de competição.
Mais do que uma sucessão natural, o que se desenha é um acordo de sobrevivência política, no qual cargos, recursos e tempo de exposição valem mais do que coerência ideológica ou renovação institucional.
A Força da Máquina e o Esvaziamento do Debate
Celina Leão chega à disputa amparada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), que busca uma vaga no Senado e opera para transferir capital político à sua vice. A estratégia é clara: associar a candidatura à narrativa de um governo com índices de aprovação em torno de 60%, utilizando a máquina administrativa como vitrine eleitoral.
No entanto, o uso do aparato governamental como ativo de campanha levanta críticas sobre o desequilíbrio da disputa. Adversários alertam que a eleição tende a ser menos um confronto de ideias e mais uma corrida desigual, na qual quem controla a estrutura pública larga vários passos à frente.
Federação Bilionária e a Política do “Caminho Único”
A federação entre Progressistas (PP) e União Brasil, batizada de União Progressista, é o pilar central dessa estratégia. Longe de representar uma convergência programática, a aliança funciona como um mecanismo de concentração de poder.
Com acesso às maiores fatias do Fundo Eleitoral, tempo dominante de rádio e televisão e a maior bancada da Câmara, a federação cria um cenário de quase hegemonia no campo governista. Ao impedir que o União Brasil lance candidato próprio ao GDF, o arranjo reduz a pluralidade política e transforma a candidatura de Celina Leão em uma espécie de caminho obrigatório dentro do grupo.
Críticos veem na federação um exemplo de como a legislação, criada para fortalecer partidos, acabou sendo usada para asfixiar a concorrência.
A “Dança das Cadeiras” como Método
A trajetória partidária de Celina Leão reforça essa leitura crítica. Ao longo da carreira, a vice-governadora transitou por PSDB, PMN, PSD, PDT, PPS (Cidadania) e, por fim, PP, partidos com orientações diversas e, em alguns casos, contraditórias.
Embora todas as migrações tenham ocorrido dentro da legalidade, o histórico alimenta a percepção de que a fidelidade partidária é secundária diante das oportunidades eleitorais. Para analistas, esse comportamento simboliza a lógica dominante da política brasileira: o partido como instrumento e não como espaço de construção ideológica.
O resultado é um eleitor cada vez mais desconectado das legendas, que vê seu voto ser “transferido” junto com o político para projetos que não escolheu originalmente.
Passivos Judiciais e o Discurso da Renovação
Outro ponto que fragiliza o discurso de estabilidade e renovação é o histórico judicial da candidata. Em março de 2025, Celina Leão foi absolvida no processo da Operação Drácon, que investigava suspeitas de corrupção envolvendo emendas parlamentares da área da saúde.
A absolvição, baseada na falta de provas suficientes para condenação, não encerrou o debate público sobre o caso. Para setores da sociedade civil, o episódio segue como um símbolo das zonas cinzentas da política local, especialmente em uma candidatura que se apresenta como alternativa segura e responsável.























